sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A Esperança Está Onde Menos Se Espera.

Tive recentemente o "prazer" de ver o trailer do novo filme do realizador português Joaquim Leitão, chamado A Esperança Está Onde Menos Se Espera. Para perceberem melhor ao que me refiro, façam o favor de ver o dito trailer aqui:



Para além do argumento fraco (pelas poucas falas do trailer já deu para perceber que os diálogos são risíveis; por exemplo: "Tu és um teimoso, pá. Tu tens que sair daqui, pá. Tu não podes estar aqui, pá."), posso apontar mais umas coisas giras:
O narrador diz "Um filme emocionante e divertido. Uma história diferente e actual.".

Hm... Deixa ver por onde começar. "Uma história diferente". Claro. Nunca se viu na história do cinema um filme sobre um adolescente com problemas familiares num liceu onde não se integra. Nunca se viu um filme sobre um branco num mundo de pretos. Oh sim, este filme é mesmo diferente. E actual também! Não é que as escolas "problemáticas" só têm alunos negros? Não é que quem é branco é beto?

Isto tudo para me queixar de duas coisas (e parece que tudo aquilo que eu faço ultimamente é queixar-me...).

1) Falta de qualidade do cinema nacional. Porque é que 99% dos filmes portugueses são ou a) Uma hora e meia de diálogos sofridos que são só desculpas para se poder ver cenas de sexo e "gajas boas" ou b) Clichés pegados do início ao fim? Tirando o eventual filme bom, com cabeça, tronco, membros, bons actores, histórias originais, bom argumento, que aparece de 10 em 10 anos (ver Alice), todo o santo filme português que estreia e tem sucesso é extremamente manhoso.

2) A perpetuação do raio do estereótipo do "miúdo branco, boa escola, boas notas, felicidade" e do "miúdo preto, violência, bairros sociais". Vivemos numa suposta sociedade igual, e filmes destes não traduzem a realidade dos nossos dias. Pode ser mais fácil para algumas mentes simplistas pensar que é assim que o mundo é, mas a verdade é que essa visão já não é verdadeira (se é que alguma vez foi). Filmes destes estimulam e perpetuam a ignorância. Alimentam estereótipos e clichés a pessoas que, infelizmente, os absorvem passivamente. E depois ainda se queixam de haver crimes de ódio racial. Num mundo em que já o presidente da (única) superpotência mundial é negro, Portugal ainda acredita que os pretos são uns coitadinhos de bairro social, miúdos problemáticos que andam nas "más escolas". E é por isso que, na minha opinião, Joaquim Leitão devia ter mais cuidado com os filmes que faz. E, numa nota mais pessoal, pedia a este realizador e a outros (*cof* João Botelho, António-Pedro Vasconcelos, Carlos Coelho da Silva *cof*) para se afastarem e deixarem os portugueses com talento terem o seu lugar ao Sol.
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